No próximo dia 9 de outubro, o canal Adrenalina Pura+ estreia Game Mortal (Latency), um thriller sci-fi psicológico que promete questionar fronteiras entre realidade e tecnologia. Dirigido por James Croke, o filme já circula internacionalmente e chega ao público brasileiro em ocasião especial, em um momento propício para avaliar o que ele entrega. A premissa gira em torno de Hana (interpretada por Sasha Luss), uma gamer profissional com agorafobia, colecionadora de retrogames e que recebe para testar um dispositivo de interface cerebral desenvolvido para aumentar desempenho nos jogos. Mas aos poucos, a linha entre seu subconsciente, o mundo virtual e a realidade vão se desfazendo em alucinações e tensões perturbadoras.
Só para questão de informação, agorafobia é um transtorno relacionado ao medo intenso de lugares públicos, especialmente se amplos e repletos de pessoas, e de situações que possam causar impotência ou constrangimento.
Gostaríamos de agradecer à Assessoria de Imprensa da Adrenalina Pura+que nos convidou para a Cabine de Imprensa do filme.
Nesta análise, exploraremos o que Game Mortal acerta e onde tropeça, para que você saiba o que esperar ao assistir no Adrenalina Pura+.
O cerne da narrativa é o conflito entre o mundo interno de Hana e o dispositivo Omnia, que promete ultrapassar os limites entre mente e máquina. À medida que ela o utiliza, imagens perturbadoras, algumas vindas de memórias, outras potencialmente de forças externas, começam a surgir. Há uma ambivalência constante: tudo pode ser “jogo”, tudo pode ser “realidade”. A agorafobia de Hana funciona como metáfora: ela já está presa em si mesma, tentando expandir seu universo através da tecnologia, mas acaba sendo tragada por ela. Também há ecos de temas contemporâneos: dependência tecnológica, saúde mental, controle corporativo por meio de dispositivos neurais, terrenos ricos, mas que nem sempre são totalmente explorados com profundidade no filme. O desafio da narrativa está em manter tensão e coerência ao mesmo tempo, algo que o filme faz com alternância entre momentos visuais fortes e passagens de introspecção.
Sasha Luss carrega o filme nos ombros, ela é o centro da trama e sua performance é o elo de empatia com o espectador. Em muitos momentos, ela segura sozinha cenas de tensão, dúvida e ruptura interior. A ambientação é propositalmente contida: praticamente tudo ocorre no apartamento de Hana, com pouca variação espacial, reforçando o aspecto claustrofóbico. Essa limitação pode ser vista como um ponto narrativo forte, você sente a prisão mental dela, mas também expõe o filme a problemas de ritmo e monotonia visual.
Do ponto de vista estético, há experimentações visuais nos momentos de ruptura: som, luzes, distorções de imagem e edições mais ousadas quando a percepção dela falha. Em tais momentos, o filme consegue instigar desconforto e curiosidade. Fora os elementos de jogos antigos, como o Game Boy que a Hana fica jogando Tetris, os jogos de PlayStation 2 em japonês e vários cartuchos de Nintendo 64. Também a decoração gamer com a luminária de parede do Pac-Man. Por outro lado, o diretor James Croke parece hesitar entre fazer um suspense sci-fi mais contido ou escorregar para o terror psicológico, resultado: a mistura nem sempre funciona plenamente.
A ideia de um dispositivo que se conecta diretamente ao cérebro e transforma a experiência de jogo é atraente. Há muito terreno para explorações dramáticas e morais. Game Mortal aproveita bem o potencial conceitual, ainda que nem sempre o leve à sua conclusão mais ousada. Em seus momentos mais eficientes, o filme consegue provocar paranoia e dúvida no espectador, você não sabe se está vendo o jogo ou a realidade. Essas ambiguidades, quando bem trabalhadas, funcionam como motor da narrativa.
Efeitos sonoros, silêncios incômodos e cortes que exploram o limiar entre o visível e o insinuação ajudam a construir a atmosfera desejada. A sustentação do filme recai sobre Hana. Quando ela entra em crise ou dúvida, o trabalho da atriz é convincente o bastante para segurar o interesse mesmo nos momentos mais lentos.
Há uma lentidão no desenvolvimento do meio do filme, em que os eventos mais impactantes perdem força pela espera prolongada entre eles. Jen, por exemplo, assemelha-se mais a um suporte funcional ao arco de Hana do que a uma personagem com motivações próprias e arcabouço emocional consistente. O filme insiste nas zonas cinzentas entre real e virtual, mas às vezes caminha em círculo, sem respostas claras, isso pode frustrar espectadores que preferem narrativas com desfechos mais definidos.
Alguns elementos interessantes surgem, como traumas de infância ou mecanismos sociais da indústria de games, mas são pouco explorados. Isso dá a sensação de que Game Mortal não se compromete totalmente com suas próprias ambições.
Game Mortal é um filme com boas ideias e lampejos de tensão eficaz, mas que nem sempre sustenta sua proposta até o final. Ele funciona bem como entretenimento para quem curte experimentações psicológicas e tem tolerância para ambiguidades. Mas quem busca tramas certeiras, personagens bem delineados ou sustos constantes pode sair da experiência insatisfeito.
Na estreia do Adrenalina Pura+, vale assistir com expectativas moderadas: aproveite os momentos de tensão e o questionamento sobre tecnologia e mente, mas esteja preparado para que nem todos os fios narrativos sejam amarrados.
O filme Game Mortal chega ao streaming Adrenalina Pura+ no dia 9 de outubro. Confira o trailer abaixo:
Game Mortal - Adrenalina Pura+
Nota Final
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Ideia e Roteiro - 8/10
8/10
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Fotografia, Figurino e Efeitos Visuais - 7.5/10
7.5/10
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Áudio e Trilha Sonora - 8/10
8/10
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Adaptação e Atuação - 9/10
9/10
VOTAÇÃO POPULAR ➡️
0 (0 votes)CONSIDERAÇÕES FINAIS
Game Mortal é uma experiência intrigante que mistura ficção científica e terror psicológico em doses desiguais, mas com momentos de real impacto. Apesar do ritmo irregular e de certas ideias subexploradas, o filme se sustenta pela performance intensa de Sasha Luss e pela atmosfera claustrofóbica que prende o espectador. A direção de James Croke aposta mais na sugestão do que na explicação, o que pode dividir opiniões. Ainda assim, é uma obra que provoca reflexão sobre os limites entre mente, tecnologia e realidade.