No dia 10 de abril estreou na Netflix a 7º Temporada da série Black Mirror. Apesar do sucesso mundial e de apresentar episódios icônicos nas primeiras temporadas, a Netflix e os produtores da série parecem estar perdendo a mão, e colocando qualquer coisa no ar, fazendo com que Black Mirror pague mico com algumas estratégias de roteiros fracassados.
Com apenas seis episódios longos (em alguns momentos até demais), Charlie Brooker, criador da série, resolveu que nesta temporada iria falar mais de sentimentos, e conseguiu, mas para uma produção que deveria tratar de tecnologia, os sentimentos deveriam ser segundo plano. Não que os episódios sejam tão ruins assim, mas quem curte a Black Mirror, quer algo assustador vindo de uma premissa tecnológica palpável, e não devaneios só com o intuito de criar dramas que passariam “de boa” na Sessão da Tarde.
O elenco inclui nomes de peso da indústria, porém, me parece que a criatividade dos roteiristas acabou lá nas primeiras temporadas, e agora ficam, como meu avô dizia, “enchendo linguiça”.
Tá… para não falar que não gostei de tudo e que sou um crítico “cri cri”, dos seis episódios apenas dois me pegaram e me fizerem ter um certo interesse. Abaixo comento um a um:
Pessoas comuns
Este com certeza é o episódio chave para a temporada, e que pra mim é o melhor de todos. Apesar de também falar sobre sentimentos, mostra-se bem atual, apresentando a realidade da maioria da população que não é “famosinha” e/ou trabalha simplesmente para se sustentar e pagar as contas do mês.
Neste episódio, a esposa de um homem está entre a vida e a morte. Eis que aparece uma empresa lhe oferecendo a chance de salvá-la, mas para isto, haverá um custo para “reconstruir” o cérebro de sua esposa, e outro ainda maior para manter ela “online”. Ele, trabalhador da construção civil, e ela, professora, não tem muitos recursos, mas o cara resolve apostar nas horas extras e em trabalhos no “submundo” da internet para conseguir uma grana e manter a esposa viva.
Acho que este episódio mostra uma realidade possível, onde empresas lucrarão com a sobrevivência das pessoas, e nós, meros mortais que não temos muita grana sobrando, vamos sofrer muito. É um paralelo à vida de hoje, onde milionários, políticos e influenciadores mostram vidas luxuosas, como se tudo fosse simples e fácil, e muitas “pessoas comuns” acabam caindo em golpes e/ou estratégias ruins de ganhar dinheiro fácil, por se compararem a realidade que veem na internet.
Bête Noire
Neste episódio, uma jovem se sente desconfortável quando uma conhecida começa a trabalhar onde ela também trabalha. O que ocorre é que elas tem um passado muito obscuro, onde esta jovem (que se sente desconfortável) fazia bullying com a nova funcionária (nos tempos de colégio), e parece que tudo não passa de um plano de vingança.
Apesar de ter um suspense legal, o recurso tecnológico é muito pra nossa cabeça, inventando soluções que seriam impossíveis na vida real. E pior! No final, a jovem que fazia bullying vence, mostrando que FDP ainda se dá bem no final.
Hotel Reverie
Neste episódio, uma empresa resolve fazer um remake de um filme antigo e em preto e branco, com algum ator atual. O que acontece é que este deverá contracenar com os atores do passado, gerados por IA e que agem com o “pensamento” dos personagens do filme.
Já na seleção do ator, dá ruim, e acabam tendo que contratar uma atriz para o papel principal, mudando um pouco o rumo do filme (parece algo que vivemos hoje em dia com live-actions e refilmagens péssimas né?). Ao começar as gravações, a atriz é levada para uma dimensão paralela e começa a gravar “em tempo real” com os atores do passado, mas ao invés de seguir o roteiro, ela acaba se atrapalhando (pela emoção) e gerando cenas que não estavam no roteiro, e isto pode fazê-la ficar eternamente nesta dimensão (se o filme não chegar ao final).
Este foi um dos episódios mais sofridos para mim. Cheguei a dormir algumas vezes, e levei três dias para finalizar, de tão ruim que era. A questão tecnológica até me convenceu, mas isto foi só um subterfúgio para um romance gay na série, o que não tem problema, mas precisava esquecer o tema principal de Black Mirror?
Brinquedo
Outro episódio que me fez dormir algumas vezes, e apesar de ter um bom começo, o final é chatíssimo!
Nele, um desenvolvedor criar uma espécie de sociedade virtual, que muitos veem como um simples jogo, mas estes “animaizinhos“ são reais, e sofrem a cada ação errada de quem está do outro lado da tela.
Um jornalista de games é convidado à conhecer o tal jogo, e entra em parafuso quando resolve levar uma cópia dele para sua casa e criar os bichinhos. Em um instante, um “amigo” dele acaba descobrindo o game e resolve matar os personagens, o que enfurece o jornalista e ele o mata.
Sim, é meio complicado de explicar, mas é mais ainda de assistir, portanto, fique longe deste episódio, de tão chato que é!
Eulogy
Um homem recluso vive memória intensas ao conhecer uma tecnologia revolucionária que permite entrar em fotografias do passado, para gerar lembranças em vídeo de pessoas que já morreram, como forma de homenagem póstumas à ela. O que ocorre é que a pessoa em questão era uma ex-namorada dele, que gerou muita dor, e ele não querendo mais lembrar dela, riscou fotos, apagou vídeos e acabou tendo dificuldades para gerar este material.
De certo ponto, a tecnologia apresentada, eu acredito que num futuro (talvez não tão próximo) seja real. Também tenho que confessar que o episódio é bonito quando uma produção de drama, mostrando como as nossas ações geram consequências inimagináveis, e uma história que podia ser linda, acaba se tornando num trauma.
Porém, novamente os roteiristas apostaram mais nas lágrimas do público no que na profusão de ideias tecnológicas, e isto me fez lamentar mais uma vez.
USS Callister – Infinity
Nesta sequencia direta do primeiro episódio da 4º Temporada, Nanette e a tripulação da USS Callister ficam presos em um universo virtual infinito, lutando por sua sobrevivência contra 30 milhões de jogadores que não fazem ideia do que aquele game era.
Foi um episódio bem legal, não só por continuar um dos melhores episódios da série, mas também por trazer novos referências aos filmes de ficção científica, aos games online e principalmente por trazer algo mais palpável ao público, e uma tecnologia muito possível, juntamente com um drama complexo e reviravoltas assustadoras.
Apesar de longo demais, cerca de 90 minutos, e me fazer assistir em dois dias (sim, o tempo aqui anda escasso), me fez prestar bastante atenção e curti toda a história, e o desfecho do episódio.
Enfim… a 7º Temporada de Black Mirror começou bem, depois ficou com horas de episódios chatos e fechou com chave de ouro com 90 minutos muito empolgantes do episódio USS Callister – Infinity. Vale a pena? Eu tenho minhas dúvidas, afinal, parece que o criador tá enrolando o público e enchendo os bolsos de dinheiro, mas enfim, já que está lá, assiste pelo menos os dois episódios bons e deixa os outros no escanteio.
A 7º Temporada de Black Mirror está disponível no streaming da Netflix. Confira o trailer abaixo:
7º Temporada da série Black Mirror - Netflix
Nota Final
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Ideia e Roteiro - 7/10
7/10
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Fotografia, Figurino e Efeitos Visuais - 9/10
9/10
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Áudio e Trilha Sonora - 7.5/10
7.5/10
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Adaptação e Atuação - 8/10
8/10
VOTAÇÃO POPULAR ➡️
0 (0 votes)CONSIDERAÇÕES FINAIS
A 7º Temporada de Black Mirror começou e finalizou bem, o problema é que o meio ficou meio “chá de cocô”…